O
que são expressões idiomáticas
Expressões idiomáticas são recursos da fala e
da escrita, que ganham novos sentidos conotativos e ultrapassam seus
significados literais quando aplicados em contextos específicos. Como por
exemplo “estar com a cabeça nas nuvens” com o sentido de estar distraído e
outras 168 que veremos neste post.
Por isso, a sua interpretação deve ser feita
de maneira geral, sem ter que observar cada elemento que compõe a sentença.
Muitas vezes, essas expressões não podem ser traduzidas e só podemos
compreendê-las avaliando o contexto em que foram utilizadas.
Você pode até não perceber, mas usamos as
expressões idiomáticas a todo instante: nas conversas, nos jornais, nas
revistas, nos programas de rádio e de televisão, nas propagandas, nos livros,
nas músicas, nos filmes…
Isso quer dizer que elas não se restringem a
situações específicas, muito menos a grupos sociais. As expressões idiomáticas
são uma parte muito importante da comunicação escrita e falada, tanto formal
quanto informal.
Quando pensamos na escrita e em questões
gramaticais, elas exercem papéis variados e podem assumir função de orações
completas, adjetivos, substantivos, verbos e
interjeições.
Expressões
idiomáticas ou Idiomatismo
Bom, os dois termos fazem referência ao mesmo
recurso, que conta com a vivência cultural e com valores conotativos para
construir um novo sentido para a frase.
Eles são o contrário das expressões
composicionais, que são montadas e só têm significado quando cada palavra é
analisada individualmente e os sentidos usuais são combinados para mostrar o
todo.
Por
que usar expressões idiomáticas
O motivo que nos leva a usar expressões
idiomáticas é o desejo de acrescentar algo nas mensagens, um elemento que a
linguagem “convencional” nem sempre é capaz de oferecer.
Acontece que, na prática, as expressões
idiomáticas têm diversas funções, como você verá a seguir.
Dar força uma frase
As expressões idiomáticas são também um
recurso literário, e como tal têm a função de aumentar o impacto do que foi
dito. Veja os exemplos a seguir:
- O
deputado ficou furioso e começou a desferir ofensas diretas ao seu
adversário.
- Em
um ataque de fúria, o deputado perdeu a linha e vociferou contra o seu adversário.
Percebe que no segundo caso há muito mais
potência do que no primeiro? Pois é, assim é possível chamar a atenção do
leitor e acrescentar um estímulo à frase.
Acrescentar sutileza a uma sentença
Muitas vezes, as palavras podem ser muito
duras. As expressões idiomáticas podem ter um efeito eufemista em diversas
circunstâncias. Veja:
- O
jogador percebeu que estava na hora de se aposentar.
- O
jogador percebeu que estava na hora de pendurar as chuteiras.
Não apenas nos textos, mas em situações cotidianas,
o uso desse recurso pode trazer sutileza e evitar ofensas, minimizar um fato ou
diminuir a intensidade da interpretação.
Enfatizar a intensidade dos nossos
sentimentos
Outra função das expressões idiomáticas é
enfatizar um sentimento. Pense nos exemplos a seguir:
- Meu
pai não merece meu perdão. Quando criança, ele me abandonou.
- Meu
pai não merece meu perdão. Quando criança, ele me deixou a ver navios.
Na segunda frase, há um choque mais profundo
para o ouvinte/leitor. Ou seja, o sentimento foi exaltado.
Adicionar humor ou ironia ao que
escrevemos ou dizemos
O humor é um recurso muito importante em
qualquer situação em que exista a comunicação. Usar as expressões idiomáticas
para tornar um discurso mais engraçado é uma ótima forma de entreter o receptor.
Por exemplo:
- Lúcia
estava muito animada na última festa da empresa.
- Lúcia
soltou a franga na última festa da empresa.
Pobre Lúcia. Provavelmente teve uma ressaca
daquelas no dia seguinte.
Reforçar um bom domínio do idioma
Certamente, a utilização desse recurso revela
que o autor tem muito mais conhecimento acerca da língua na qual o texto foi
proclamado (seja ele verbal ou não verbal). Veja os exemplos a seguir:
- João
Paulo presenciou o crime, mas estava disposto a não denunciá-lo.
- João
Paulo presenciou o crime, mas estava disposto a fazer vista grossa.
JP, aliás, seria enquadrado como cúmplice.
Ironizar
A ironia é um valioso recurso linguístico.
Muitas vezes, ela pode ser valiosa e tornar o texto mais rico. Esse é um
recurso muito utilizado por colunistas, como Diogo Mainardi e Arnaldo Jabor,
por exemplo.
- Você
agiu bem. Beijar os pés de quem o apunhalou pelas costas é uma ótima
saída.
Quem nunca, né?
Insinuar
Palavras entreditas são aquelas modificadas
propositalmente para terem duplo sentido. Elas servem para evitar situações
constrangedoras ou fazer sugestões indiretas.
- É
claro que eu posso ajudá-lo. Mas sabe como é, uma mão lava a outra.
Aproximar do leitor
Por fim, as expressões idiomáticas também
podem ser um recurso valioso para aproximar-se da sua persona. A partir do
momento em que você as conhece bem, é possível utilizá-las para uma comunicação
direcionada.
- Graças
às dívidas, minha tia está em uma situação muito complicada.
- Graças
às dívidas, minha tia está pisando em ovos.
Exemplos de expressões
idiomáticas
Agora que você já sabe o que é são as expressões
idiomáticas e para o que elas servem, pode, finalmente, conhecer as principais
frases desse tipo que são usadas em nossa língua. Confira, a seguir, uma lista
com 169 expressões bastante recorrentes no português:
- A céu aberto: ao ar livre
- Abandonar o barco: desistir de uma situação
difícil
- Abotoar o paletó: morrer
- Abrir mão de alguma coisa: renunciar alguma
coisa
- Abrir o coração: desabafar, declarar-se
sinceramente
- Abrir o jogo: denunciar ou revelar detalhes
- Abrir os olhos a alguém: alertar ou convencer
alguém de alguma coisa
- Acabar em pizza: quando uma situação não
resolvida acaba encerrada (especialmente em casos de corrupção, quando
ninguém é punido)
- Acertar na lata: acertar com precisão,
adivinhar de primeira
- Acertar na mosca: acertar com precisão,
adivinhar de primeira
- Adoçar a boca: conseguir um favor de alguém
com elogios
- Agarrar com unhas e dentes: agir de forma
extrema para não perder algo ou alguém
- Agora é que são elas: momento em que começa a
dificuldade
- Água que passarinho não bebe: pinga ou bebida
alcoólica
- Amarrar o burro: descansar ou se comprometer
romanticamente com alguém
- Amigo da onça: amigo falso, interesseiro ou
traidor
- Andar feito barata tonta: estar distraído
- Andar na linha: estar elegante ou agir corretamente
- Andar nas nuvens: estar distraído
- Ao deus dará: abandonado ou sem rumo
- Ao pé da letra: literalmente
- Aos trancos e barrancos: de forma desajeitada
- Armar um barraco: discutir ou brigar em
público
- Armar-se até aos dentes: estar preparado para
qualquer situação
- Arrancar cabelos: desesperar-se
- Arrastar as asas: insinuar-se romanticamente
para alguém
- Arregaçar as mangas: começar uma atividade ou
um trabalho com afinco
- Arrumar sarna para se coçar: procurar
problemas
- Até debaixo d’água: em todas as circunstâncias
- Babar ovo: idolatrar alguém incondicionalmente
- Baixar a bola: acalmar-se ou ser mais comedido
- Banho de gato: lavar superficialmente as
partes do corpo
- Banho de água fria: desiludir ou quebrar as
expectativas de alguém
- Barata tonta: perdido, desorientado, sem saber
o que fazer
- Barra pesada: situação difícil ou pessoa
violenta
- Bate e volta: ir e voltar de um evento ou de
um lugar rapidamente
- Bater as botas: morrer
- Bater na mesma tecla: insistir no mesmo
assunto
- Bater papo: conversar informalmente
- Bode expiatório: aquele que leva a culpa no
lugar de outro
- Bola para frente: expressão de encorajamento,
para se seguir em frente mesmo frente a adversidades
- Bom de bico: galanteador ou alguém que tenta
convencer os outros com conversa
- Botar a boca no trombone: revelar um segredo
ou tornar algo público
- Botar o carro na frente dos bois: pular etapas
de forma inapropriada, geralmente atrapalhando o andamento de uma situação
- Botar para quebrar: fazer algo com extrema
intensidade, em geral em sentido positivo
- Briga de cachorro grande: embate entre grandes
forças
- Cair a ficha: dar-se conta de algo ou entender
um assunto tardiamente
- Cara de pau: descarado ou sem-vergonha
- Chutar o balde: agir irresponsavelmente em
relação a um problema
- Chutar o pau da barraca: agir
irresponsavelmente em relação a um problema
- Colocar melancia na cabeça: exibir-se ou
querer chamar a atenção dos outros
- Comer cru e quente: ser apressado
- Comprar gato por lebre: ser enganado
- Conversa fiada: falar uma mentira ou inventar
uma desculpa
- Cutucar a onça com vara curta: provocar alguém
indevidamente
- Dar a volta por cima: recuperar-se
- Dar bola: insinuar-se romanticamente para
alguém
- Dar com a cara na porta: receber um “não” como
resposta ou procurar algo e não encontrar
- Dar com a língua nos dentes: dizer algo que
não podia ter sido dito
- Dar mancada: cometer um deslize ou descumprir
uma promessa
- Dar o braço a torcer: retomar uma decisão ou
deixar o orgulho de lado
- Dar uma de João sem braço: fazer-se de
desentendido
- Dar uma mãozinha: dar uma pequena ajuda
- De uma forma ou de outra: quando tem certeza
de que algo vai acontecer
- Deixar na mão: abandonar ou não ajudar
- Descascar o abacaxi: resolver um problema
complicado
- Dormir no ponto: perder uma oportunidade
- Encher linguiça: enrolar ou preencher espaço
com embromação
- Enfiar o pé na jaca: cometer excessos
- Engolir sapo: fazer algo contrariado, ser alvo
de insultos ou acumular ressentimentos
- Entornar o caneco: beber muito
- Entrar numa fria: se dar mal
- Entrar pelo cano: se dar mal ou ficar encrencado
- Enxugar gelo: fazer um trabalho inútil
- Estar com a bola murcha: estar sem ânimo
- Estar com a cabeça nas nuvens: estar distraído
- Estar com a cabeça quente: estar muito
irritado
- Estar com a corda no pescoço: estar ameaçado,
sob pressão ou com problemas financeiros
- Estar com a corda toda: estar animado ou
empolgado
- Estar com a faca e o queijo na mão: estar com
poder ou condições para resolver algo
- Estar com a pulga atrás da orelha: estar
desconfiado
- Estar com aperto no coração: estar angustiado
- Estar com dor de cotovelo: ter uma decepção
amorosa ou estar com ciúmes
- Estar com um pé atrás: estar desconfiado
- Estar com o pé na cova: estar para morrer
- Estar com uma pedra no sapato: ter um problema
por resolver
- Estar dando sopa: estar inadvertidamente
vulnerável
- Estar de mãos abanando: não conseguir o que
pretendia
- Estar de mãos atadas: não poder fazer nada
- Estar na aba de alguém: usar algo emprestado
ou de graça
- Fazer boca de siri: manter segredo sobre algum
assunto
- Fazer de olhos fechados: fazer com muita facilidade
- Fazer nas coxas: fazer sem cuidado
- Fazer tempestade em copo d’água: transformar
uma banalidade em tragédia
- Fazer um negócio da China: aproveitar uma
grande oportunidade
- Fazer vista grossa: fingir que não viu,
relevar ou negligenciar
- Feito cego em tiroteio: desorientado ou
perdido
- Ficar a ver navios: ficar sem nada ou sem
coisa alguma
- Gritar a plenos pulmões: gritar com toda a
força
- Ir catar coquinho: pedir para alguém ir fazer
outra coisa ou para não se intrometer no assunto
- Ir desta para melhor: morrer
- Ir para o espaço: não funcionar, falhar ou dar
errado
- Ir pentear macaco: pedir para alguém ir fazer
outra coisa ou para não se intrometer no assunto
- Ir tomar banho: pedir para alguém ir fazer
outra coisa ou para não se intrometer no assunto
- Jogado para escanteio: posto de lado,
descartado ou ignorado
- Lavar a roupa suja: acertar as diferenças com
alguém
- Lavar as mãos: não se envolver
- Levado da breca: pessoa difícil ou que faz
coisas impensáveis
- Levantar com o pé esquerdo: ter um dia ruim
- Levar ferro: fracassar ou se dar mal
- Levar toco: ser dispensado romanticamente
- Levar um fora: ser dispensado ou desprezado
romanticamente
- Mandar ver: fazer algo com extrema
intensidade, em geral em sentido positivo
- Matar a cobra e mostrar o pau: assumir um ato
com fervor
- Meter o dedo na ferida: insistir em uma
situação problemática
- Meter o rabo entre as pernas: submeter-se ou
se acovardar
- Meter os pés pelas mãos: confundir-se no
raciocínio ou agir com pressa ou desajeitadamente
- Mudar da água para o vinho: mudar totalmente
ou radicalmente
- O gato comeu a língua: pessoa calada
- Onde Judas perdeu as botas: lugar muito
distante
- Pagar o pato: ser responsabilizado por algo
que não cometeu
- Pendurar as chuteiras: aposentar-se ou
desistir
- Pensar na morte da bezerra: distrair-se
- Perder a linha: perder a educação ou a
elegância
- Perder as estribeiras: desnortear-se
- Pirar na batatinha: pensar ou propor uma coisa
improvável ou impossível de acontecer
- Pisar na bola: cometer um deslize
- Plantar bananeira: colocar-se de cabeça para
baixo
- Procurar chifre em cabeça de cavalo: procurar
significados ou imaginar problemas que não existem
- Procurar sarna para se coçar: envolver-se em
problemas sem necessidade
- Procurar uma agulha num palheiro: tentar algo
quase impossível
- Prometer mundos e fundos: fazer promessas
exageradas
- Pôr as barbas de molho: precaver-se
- Pôr as cartas na mesa: expor os fatos
- Pôr minhoca na cabeça: criar ou refletir sobre
problemas inexistentes
- Pôr mãos à obra: trabalhar com afinco
- Pôr os pingos nos “is”: esclarecer uma
situação detalhadamente
- Puxar saco: idolatrar alguém
incondicionalmente
- Quebrar o galho: improvisar ou dar uma solução
precária
- Receber um balde de água fria: situação
inesperada que transforma entusiasmo em desilusão
- Resolver um pepino: solucionar um problema
- Riscar do mapa: fazer desaparecer
- Segurar vela: acompanhar um casal ou ser o
único solteiro numa roda de casais
- Sem eira nem beira: destituído de tudo
- Sem pés nem cabeça: sem lógica ou sem sentido
- Sentir dor de corno: sentir despeito amoroso
- Sentir dor de cotovelo: sentir inveja
- Ser um barbeiro: motorista descuidado
- Ser um chato de galocha: ser uma pessoa
desagradável
- Ser um joão-ninguém: ser uma pessoa sem
importância ou sem dinheiro
- Ser um maria-vai-com-as-outras: não ter personalidade
própria ou deixar se influenciar facilmente pelos outros
- Ser uma mala sem alça: ser uma pessoa
desagradável ou difícil de ser tolerada
- Ser uma mão na roda: ser prestativo
- Ser uma pedra no sapato: ser uma pessoa
desagradável
- Soltar a franga: desinibir-se
- Subir pelas paredes: desesperar-se
- Tempestade em copo d’água: dar importância
muito grande a uma coisa muito pequena
- Tirar de letra: fazer algo com muita
facilidade
- Tirar o cavalo (ou cavalinho) da chuva:
desistir com relutância por motivo de força maior
- Tirar onda: brincar ou sacanear
- Tirar água do joelho: urinar
- Tomar um chega para lá: ser descartado
- Trocar alhos por bugalhos: confundir fatos
- Trocar as bolas: atrapalhar-se
- Trocar seis por meia dúzia: trocar uma coisa
por outra que não vai fazer a menor diferença
- Uma mão lava a outra: trabalhar em equipe ou
para o mesmo fim
- Viajar na maionese: não entender alguma coisa
ou dizer um absurdo ou algo sem sentido
- Virar a casaca: mudar de ideia facilmente
- Voltar à vaca fria: retornar a um assunto
inicial da discussão depois de uma divagação
Essas são algumas das expressões linguísticas mais
usadas no português. Há, sim, centenas de outras, mas nem todas elas são tão conhecidas, já
que são usadas em apenas algumas regiões do país.
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