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quarta-feira, 3 de junho de 2015

TROVADORISMO - LITERATURA


TROVADORISMO
PRIMEIRA ÉPOCA MEDIEVAL

CONTEXTO HISTÓRICO
Designa-se por Trovadorismo o período que engloba a produção literária de Portugal durante seus primeiros séculos de existência (séc. XII ao XV).
Durante essa época a poesia alcançou grande popularidade, não somente entre os nobres da corte mas também entre as pessoas comuns do povo.
Os poemas eram cantados e acompanhados de instrumentos musicais e danças, por causa disso, foram denominados cantigas.
Momento final da Idade Média na Península Ibérica, onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento marcante.
A vida do homem medieval é totalmente norteada pelos valores religiosos e para a salvação da alma.
São comuns procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc.
A arte reflete, então, esse sentimento religioso em que tudo gira em torno de Deus.
Por isso, essa época é chamada de Teocêntrica.
As relações sociais estão baseadas também na submissão aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos.
Há bastante distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a superioridade de uma sobre a outra.
O marco inicial do Trovadorismo data da primeira cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente em 1198, entitulada Cantiga da Ribeirinha.

CARACTERÍSTICAS
A poesia desta época compõe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.).
Os autores dessas cantigas eram chamados de trovadores . Esses poetas faziam parte da nobreza ou do clero e, além da letra, criavam a música das composições que eram executadas nas cortes.
Já nas camadas populares, quem cantava e executava as canções, mas não as criava, eram os jograis.
Mais tarde, as cantigas foram copiladas em Cancioneiros.
Os mais importantes Cancioneiros desta época são o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.

As cantigas eram cantadas no idioma galego-português e dividem-se em dois tipos:
líricas (de amor e de amigo);
satíricas (de escárnio e mal-dizer).
Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam maior potencial pois formam a base da poesia lírica portuguesa e até brasileira.
Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas vezes obscena.

CANTIGAS DE AMOR
- Origem em Provença, região da França.
- Trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as cortes.
- Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de posição social superior, inatingível.
- Refletindo a relação social de servidão, o trovador roga a dama que aceite sua dedicação e submissão.
Eu-lírico - masculino


EXEMPLO
Perguntar-vos quero por Deus
Senhor fremosa, que vos fez
mesurada e de bon prez,
que pecados foron os meus
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes ben.

Pero sempre vos soub'amar
des aquel dia que vos vi,
mays que os meus olhos en mi,
e assy o quis Deus guisar,
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes ben.

Des que vos vi, sempr'o maior
ben que vos podia querer
vos quigi, a todo meu poder,
e pero quis Nostro Senhor
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes ben.

Mays, senhor, ainda con bem
se cobraria ben por ben.
(Don Dinis, rei de Portugal que viveu entre 1261 – 1325)

CANTIGAS DE AMIGO
- Este tipo de texto apresenta um eu-lírico feminino.
- O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino.
- Tem como tema o sofrimento da mulher à espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas, etc.

- Os elementos da natureza estão sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo.
- Eu-lírico – feminino

EXEMPLO

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Martin Codax

CANTIGAS SATÍRICAS
Nessas cantigas os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo todas as classes sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios.

Dividem-se em:
Cantigas de escárnio - crítica indireta e irônica
Cantigas de maldizer - crítica direta e mais grosseira

EXEMPLO: CANTIGA DE ESCÁRNIO

Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...

Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Joan Garcia de Guilhade

EXEMPLO: CANTIGA DE MALDIZER

Maria Peres se mãefestou 
noutro dia, ca por pecador 
se sentiu, e log' a Nostro Senhor
prometeu, pelo mal em que andou,
que tevess' um clérig' a seu poder, 
polos pecados que lhi faz fazer
o demo, com que x'ela sempr'andou. 
Mãefestou-se, ca  diz que s'achou
pecador mui't, porém, rogador
foi log' a Deus, ca teve por melhor
de guardar a El ca o que a guardou
E mentre  viva diz que quer teer
um clérigo, com que se defender
possa do demo, que sempre guardou


E pois  que bem seus pecados catou
de sa mor' ouv  ela gram pavor
e d'esmolar ouv' ela gram sabor 
E logo entom um clérico filhou 
e deu-lhe a cama em que sol jazer 
E diz que o terrá mentre viver
e esta fará; todo por Deus filhou. 

E pois que s'este preito  começou,
antr'eles ambos ouve grand'amor.
Antr'el  á sempr'o demo maior
atá que se Balteira confessou.
Mais pois que viu o clérigo caer,
antre'eles ambos ouv'i  a perder
o demo, dês que (desde que) s'ela confessou.  

(Fernando Velho)

A PROSA TROVADORESCA

Nesse período o gênero narrativo também foi cultivado, especialmente, as novelas de cavalaria, pois a idade Média era a época dos cavaleiros medievais, a base da força militar dos senhores dos feudos. Pertencer à cavalaria significava riqueza, honra e glória.

Combate entre vilões e heróis, raptos de donzelas e final feliz: eram os ingredientes das novelas de cavalaria, histórias populares da Europa nos séculos XV e XVI. Feitas para serem lidas em voz alta, essas narrativas originaram-se dos antigos poemas de assuntos de guerreiros denominados canções de gesta
Esta literatura constituiu um vigoroso movimento em toda a cultura européia. Os ingredientes dessas novelas fantásticas continuam vivos em muitas manifestações artísticas.
São relatos em verso dos acontecimentos históricos e das façanhas de valentes guerreiros. No ambiente de guerra e conquista da época, as narrações das canções de gesta entusiasmavam o público e serviam de exemplo aos cavaleiros e às tropas sob comando de um rei.

Amadis de Gaula
Uma das novelas de cavalaria mais populares da Europa no século XV. Amadis é um valente cavaleiro, apaixonado por Oriana, de quem era pajem.
Ainda hoje, não se sabe ao certo se originariamente esta obra tem autoria portuguesa ou espanhola. O que se conhece é que ela é uma obra peninsular e melhor representa a galanteria palaciana.
Amadis ordenou-lhe então que pusesse a donzela de Dinamarca em cima de um dos cavalos que andavam à solta. E, pondo Oriana sobre o palafrém da donzela, partiram de ali tão alegres que mais não podiam ser. Amadis levava sua senhora pela rédea. Ela ia-lhe dizendo o quanto se sentia amedrontada com todos aqueles cavaleiros mortos e que ainda estava fora de si. E ele respondeu-lhe:
_ Muito mais espantosa e cruel é aquela morte em que eu por vós padeço. Senhora, doei-vos de mim e lembrai-vos do que me prometestes. Se até aqui me sustive, foi só porque creio que não estava em vossa mão o poder de dar-me mais do que me dáveis. Mas, se de aqui em diante, vendo-vos, senhora, em tanta liberdade, não acudísseis ao meu desejo,
Nenhuma cousa bastaria já para me fazer suportar a vida; antes seria acabada com a mais rabiosa ânsia que jamais se viu.
João de Barros
Algumas obras sobre as novelas de cavalaria
- A Morte do Rei Arthur – século XIII
- Contos e Lendas dos Cavaleiros da Távora Redonda.

OUTRAS FORMAS DE PROSAS NO TROVADORISMO

Hariografias- biografia de santos
Nobiliários - relatos genealógicos de famílias nobres
Cronicões- relatam, de forma romanceada, os episódios históricos/sociais do século XIV

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