SIMULADOS SPAECE

segunda-feira, 23 de abril de 2018

TROVAS POPULARES


O que é uma trova?
A trova é uma poesia formada por uma única estrofe (poesia monostrófica), com sete sílabas métricas ou poéticas (redondilha maior) em cada um dos seus quatro versos, que devem oferecer ao leitor o significado completo da mensagem a ser transmitida.
Na trova, a rima é obrigatória, mas não é obrigatório haver um título. As estruturas rimáticas de uma trova podem ser: rima alternada (ABAB); rima interpolada (ABBA); rima emparelhada (AABB); e rima simples (ABCB).
A trova abaixo, de Eva Reis, é um exemplo de trova com rima alternada.

Ficou pronta a criação (A)
Sem um defeito sequer, (B)
E atingiu a perfeição (A)
Quando Deus fez a mulher.  (B)



 100 TROVAS POPULARES

A árvore do amor se planta
no centro do coração;
só a pode derrubar
o golpe da ingratidão.
Amigo, não voltes nunca
aos tens amores passados,
os mortos por mais queridos
devem ficar enterrados.
Coração que a dois ama,
e que a dois quer agradar,
não ande enganando os outros,
veja com quem quer ficar.
A cantar ganhei dinheiro,
a cantar se me acabou.
O dinheiro mal ganhado
água deu água levou.
Amor com amor se paga:
nunca vi coisa tão justa;
paga-me contigo mesmo
saberás quanto te custa.
À noite quando me deito
eu rezo à Virgem Maria,
para sonhar toda a noite
com quem penso todo o dia.

A desgraça do pau verde
é ter o seco encostado:
chega o fogo, queima o seco,
fica o verde sapecado …

A dor por maior que seja
se comprime, se contrai.
Eu nunca vi dor no mundo
que não coubesse num ai.
Alma no corpo não tenho;
minha existência é fingida;
sou como o tronco quebrado,
que dá sombra sem ter vida.
Bateram, abri por dó;
em a desgraça que entrou.
Fêz-lhe pena ver-me só
e nunca, mais me deixou.
Alegria dos meus olhos
é ver a quem quero bem:
quando não vejo quem quero
não quero ver mais ninguém.
Amar e saber amar
são dois pontos delicados:
os que amam, são sem conta:
os que sabem, são contados.
Amar e não ter ciúmes,
isso não é querer bem;
quem não zela o bem que ama,
muito pouco amor lhe tem,
A menina que eu namoro
e que me quer muito bem,
tem um sorriso que encanta
e vinte contos também.

Aqui tens a minha mão
ajunta palma com palma;
domina o meu coração,
toma posse de minha alma.

Aqui tens meu coração
e a chave para o abrir;
não tenho mais que te dar
nem tu o que e pedir!

As rosas é que são belas,
são os espinhos que picam,
mas são as rosas que caem,
são os espinhos que ficam …

Carvalho que dás bogalho,
porque não dás coisa boa?
Cada um dá o que tem,
conforme a sua pessoa,

Chamaste-me tua vida,
eu tua alma quem ser:
a vida acaba com a morte,
a alma não pode morrer.

Com pena pego na pena,
coro pena quero escrever,
caiu-me a pena no chão
com pena de te não ver.

Das lágrimas faço contas
com que rezo às escuras;
oh! morte que tanto tardas!
oh! vida que tanto duras!

Deixa ficar descontente
contigo lá quem quiser,
três coisas nunca se emprestam:
arma, cavalo e mulher. . .

Deus não criou infelizes…
Os infelizes se fazem…
Mas quem pode interromper
o destino que êles trazem?!

Dizem que o pito alivia
as mágoas do coração;
eu pito, pito e repito
e as mágoas nunca se vão.
É, se o sol ficasse preto,
nunca mais que ninguém via.
Mas teus olhos têm mais força:
eles são preto e alumia …

Eu amante e tu amante,
qual de nós será mais firme?
Eu como o sol a buscar-te,
tu como a sombra a fugir-me?

Esta noite dormi fora,
na porta do meu amor,
deu o vento na roseira
me cobriu todo de flor.

Eu amava-te, ó menina,
se não fora um só senão:
seres pia de água benta
onde todos põem a mão.

Eu casei-me e cativei-me,
inda não me arrependi;
quanto mais vivo contigo,
menos posso estar sem ti.
Eu quero bem à desgraça
que sempre me acompanhou;
tenho ódio à ventura,
que bem cedo me deixou.

Eu quero bem, mas não digo
a quem é que eu quero bem;
quero que saibam que eu quero,
mas que não saibam a quem!

Estudante, deixe os livros,
e volte-se, para mim;
mais vale um dia de amores
que dez anos de latim.
Foste pedir-me a meu pai,
sem saber o querer meu;
em tudo meu pai governa,
mas nisso governo eu.

Fui no livro do destino
minha sorte procurar,
corri folhas encontrei:
eu nasci para te amar.
Há uma espécie de plantas
que vingam sem ter raízes…
Assim são certos sorrisos
nos lábio, dos infelizes.

Inda que meu pai me mate,
minha mãe me tire a vida,
minha palavra está dada,
minha alma está prometida.

Infeliz me considero
em todos os meus intentos:
quando penso achar venturas
não acho senão tormentos.

Já fui alegre e contente,
hoje não sou mais ninguém.
Já fui consolo dos tristes,
hoje seu triste também.

Já não posso ser contente,
tenho a esperança perdida;
ando perdido entre a gente,
nem morro nem tenho vida.

Lá vai uma ave voando
com as penas que Deus lhe deu,
contando pena por pena,
mais penas padeço eu.
Meu amor, vá pelo mundo:
ir pelo mundo é um bem,
o mundo também é regra
para aquêles que a não têm.
Meu pai julga que me tem
fechadinha na varanda.
Coitadinho de meu pai
que bem enganado anda …

Minha mãe, case-me cedo,
enquanto sou rapariga,
que o milho sachado tarde
não dá palha, nem espiga.

Menina dos olhos verdes,
dá-me água pra beber;
não é sede, nao é nada,
é vontade de te ver.

Muito vence quem se vence,
muito diz quem não diz tudo
porque ao discreto pertence
a tempo fazer-se mudo.

Não me tentes com fortuna
para contigo casar:
eu prefiro mais quem tenha
coração para me dar…

Naquela noite saudosa
quando de ti me apartei,
cem passos não eram dados
quando sem alma fiquei,

Ninguém deve, neste mundo,
de alheias desgraças rir.
Quando o céu troveja, o raio
não faz ponto onde cair. …

Ninguém descubra o seu peito
por maior que seja a dor;
quem o seu peito descobre
é de si mesmo traidor…

Ninguém se julgue feliz
por ter tudo em bom estado,
pois vem a tirana sorte,
faz dum feliz desgraçado…

No coração da mulher,
por muito frio que faça,
há sempre calor bastante
para aquecer a desgraça.
No ventre da Virgem Mãe
encarnou divina graça;
entrou e saiu por ela,
como o sol pela vidraça.

Ó alegria do mundo
por onde é que tens andado?
Tenho corrido mil terras,
e não te tenho encontrado …

O anel que tu me deste
era de vidro e quebrou;
o amor que tu me tinhas
era pouco e acabou.

O coração e os olhos
são dois amantes leais,
quando o coração tem penas
logo os olhos dão sinal.

Ó cipreste verde, triste,
cópia da minha figura,
verde qual minha esperança,
triste qual minha ventura.

Olhos pretos matadores,
cara cheia de alegria,
um beijo na tua boca
me sustenta todo o dia,

O meu amor me disse ontem
que eu andava coradinha;
os anjos do Céu me levem
se esta cor não é minha!

Ó morte, ó tirana morte,
contra ti tenho mil queixas:
quem hás-de levar não levas,
quem deves deixar, não deixas!

O pouco que Deus nos deu
cabe numa mão fechada;
o pouco com Deus é muito,
o muito sem Deus é nada.

Os males que me circundam
são como as ondas do mar:
atrás de uma vêm outras,
sem nunca poder cessar.

Os olhos de meu benzinho
são jóias que não se vendem,
são balas que me feriram,
são correntes que me prendem.

Os teus olhos, pretos, pretos,
são como a noite cerrada.
Mesmo pretos, como são,
sem eles, não vejo nada.

O teu pé decerto cabe
num sapatinho chinês,
mas a vaidade não cabe
em toda a China, talvez!

Passarinhos, meus amigos,
eu também sou vosso irmão:
vós tendes penas nas asas,
eu tenho-as no coração.

Pobre louco apaixonado,
ai de mim! que não mais via,
que seu amor, pouco a pouco,
esfriava dia a dia.
Por te amar perdi a Deus
por teu amor me perdi,
agora vejo-me só,
sem Deus, sem amor, sem ti…

Privar-me de que eu te veja
isso, meu bem, pode ser;
mas privar-me de que te ame,
só Deus tem esse poder.
Quando eu te vi, logo disse:
lindos olho, para amar,
linda boca para os beijos
se a menina os quiser dar.

Quando o sobreiro der baga
e a cortiça for ao fundo,
só então se hão de acabar
as más línguas deste mundo.

Que cigarro tão cheiroso! …
Me dê uma fumacinha.
Com a desculpa do cigarro
sua mão pega na minha.

Quem disser que a vida acaba,
digo-lhe eu, que nunca amou;
quem deixou ficar saudades
nunca a vida abandonou.


Quem inventou a partida
não sabia o que era amar;
quem parte, parte sem vida,
quem fica, fica a chorar.


Quem me dera ser a hera
pela parede a subir
para chegar à janela
do teu quarto de dormir.


Quem me dera ser as contas
desse teu lindo colar,
para dormir em teu seio
e nunca mais acordar.

Quem me dera ser a seda,
depois da seda o cetim,
para andar de mão em mão,
as moças pegando em mim!
Quem não nasceu prá sofrer
desafiar pode os fados,
que os próprios deuses respeitam
os entes afortunados.

Quem quiser ter vida longa
fuja sempre que puder
do médico, boticário,
melão, pepino e mulher.
Quem roubou o meu amor
deve ser um meu amigo …
Levou penas, deixou glórias,
levou trabalhos consigo …

Quem tem amores não dorme,
nem de noite, nem de dia;
dá tantas voltas na cama,
como o peixe na água fria.

Quem tiver filhas no mundo
não fale das malfadadas;
porque as filhas da desgraça
também nasceram honradas.

Quem tiver filhos pequenos
por força há-de cantar:
quantas vezes as mães cantam
com vontade de chorar.

Rouxinol canta de noite,
de manhã a cotovia;
todos cantam, só eu choro
toda a noite e todo o dia!

Venci! Cheguei a subir!
Nada! Ninguém me ajudou!
Mas, comecei a cair,
toda gente me puxou! …

Vossos cabelos na testa
é o que vos dá tanta graça;
parecem meadas de ouro
onde o sol se embaraça.

Um suspiro de repente,
um certo mudar de cor,
são infalíveis sinais
de quem sofre o mal de amor.
Ter amor é muito bom
quando há correspondência;
mas amar sem ser amado
faz perder a paciência.

Todo homem diz que sim
depois de ter dito “não”.
Primeiro fala o orgulho
depois fala o coração.

Triste daquele a quem falta,
na vida, que se evapora,
uma criança que salta,
que canta, que ri e chora!

Triste durmo, triste acordo,
triste torno a amanhecer.
Para mim tudo é tristeza,
serei triste até morrer.
Triste sou, triste me vejo
sem a tua companhia;
tão triste, que nem me lembra
se alegre fui algum dia.
Tudo o que é triste no mundo
tomara que fosse meu,
para ver se tudo junto
era mais triste do que eu.

Tu te queixas, eu me queixo …
Qual de nós terá razão?
Tu te queixas do meu zêlo;
eu, da tua ingratidão.

São três coisas neste mundo
que um homem de gosto quer;
uma casinha asseiada,
um “pinho” bom e mulher.

Se esta rua fosse minha
eu mandava ladrilhar,
com pedrinhas de brilhante,
para meu bem passeiar.

Se eu pensara quem tu eras,
quem tu havias de ser,
não dava meu coração
para tão cedo sofrer.

Se mil corações tivesse
com eles eu te amaria;
mil vidas que Deus me desse
em ti as empregaria.

Se onde se mata um homem,
pôr uma cruz é preceito,
tu deves trazer, Maria,
um cemitério no peito.

Se tu fosses pé de pau
eu queria ser cipó:
vivia em ti enroscado
no teu corpo dando nó.
Sonhei contigo esta noite,
mas oh! que sonho atrevido!
Sonhei que estava abraçado
à forma do teu vestido!



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Fonte: Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge. 100 Trovas Populares. Coleção “Trovadores Brasileiros”. Editora Vecchi – 1959



COLEÇÃO DE TROVAS POPULARES - II
Casada nem um só dia
solteira duzentos anos;
casada cheia de filhos
solteira cheia d'enganos.

Cunhada, tanta má vida
que me dá o vosso irmão;
de dia tanta pancada,
de noite tanta paixão!

Aqui tens a minha mão,
cinco dedos, cinco unhas;
se queres casar comigo,
vai chamar as testemunhas...

Alegria dos casados
são os três dias primeiros;
depois andam só chorando
pela vida de solteiros.

Casadinha de há três dias
mandou trabalhar o home;
trabalha, homem, trabalha,
quem não trabalha não come.

Casadinha há três dias,
ela aí vai a chorar,
pela vida de solteira
que já não torna a alcançar

Não te dou chá,
Porque não tem.
Queres um beijo?.
Vem cá, meu bem!

- Até no alto
Eu vou contigo,
Do alto pra lá,
Não tem perigo!

- Serviço bonito
É o da mulhé:
Sentada na porta,
A fazê croché.

Choquei galinha,
Nasceu peru:
Vendi mestiço,
Comprei zebu.

- A porta abre,
A janela cai;
A cabra morre,
A morena sai.

Este mundo nasceu à toa,
Deste oco ninguém sai.
Minha mãe morreu sem dentes,
De tanto mordê,meu pai.

O padre foi dizer missa,
Na capela de Belém.
Em vez de dizer: - Oremus,
Disse: - Maricas, meu bem!

O padre, quando namora,
Passa logo a mão na c’roa.
Namora, padre, namora,
Que Roma tudo perdoa!

Quem tivé fia bonita,
Não mande apanhá café
Si fô minina, vem moça;
Si fô moça, vem muié.

Meiga forma abandonada
que merece amor e estudo
No espaço de um quase nada
pode dizer quase tudo
Não botes lencinho branco
Para o lado donde ando
Bate o vento, sacode o lenço
Penso que me estás chamando
O surdo ouviu
o mudo dizer
que o cego viu
o aleijado correr
Vi teu rasto na areia
E pus-me a considerar...
Que mimo será teu corpo...
Se teu rasto faz sonhar?
Caminho de tua casa
tem morro que sobe e desce
no dia que não te vejo
teu retrato me aparece
Quantas vezes, junto a um jazigo,
alguém murmura...de leve:
- Adeus para sempre, amigo!
E o morto diz: -Até breve!!!
Porque tanto pesa o morto
fechado no seu caixão?
Não pesa o morto querido,
pesa é a saudade da vida
fechada no coração.
Duas vidas todos temos
muitas vezes sem saber:
A vida que nós vivemos
e a que sonhamos viver
Saudade - mágoa gostosa
ninguém sabe donde vem.
Vive num botão de rosa,
morre nos olhos de alguém.
Careca, sem um cabelo
Percorreu o restaurante.
Diz a menina, ao vê-lo,
-Mamãe! Um queijo ambulante!
Açucena quando nasce
Longe do pé bota flor
Na ausência se conhece
Quem é firme no seu amor

Fui à praia comprar peixe
Comprei um pampo dourado
Dentro do pampo encontrei
O teu coração retratado


Bananeira, chora, chora
Pelos filhos que tem
Cortam o cacho, chora a mãe
Ficam os filhos sem ninguém

O meu amor foi embora
Pra banda que o sol entrou
O sol já foi, já veio
Meu amor foi e ficou

Perguntei ao sol se viu
À lua se conheceu
Às estrelas se encontraram
Amor firme como o meu

Menina não se encoste
Que a parede tem pó
Só encoste nos meus braços
Que o amor é um só

Tu andas te gabando
Que tens muito "aonde" escolhas
Toma cuidado, não fiques
Como a figueira sem folhas

Vou escrever uma carta
Com a pena do quero-quero
Pra te mandar dizer
Que não te ligo nem te quero

Quem zombou do meu amor
Foi a minha namorada
Pensa que eu tenho paixão
Paixão, não tenho nada

Num copo de salsa verde
Num copo de verde salsa
Mais vale uma feia firme
Que uma bonita falsa

Da minha casa pra lá
Todo mundo me quer bem
Só a mãe do meu amor
Não sei que raiva me tem

Atirei um cravo n'água
De teimoso foi ao fundo
Os peixinhos responderam
Vida dom Pedro II

Eu plantei a cana verde
Lá em baixo, na baixada
Me chuparam a cana toda
Só deixaram a bagaçada

Quem é amarelo não dança
Só dança quem é vermelho
O melhor dos dançadores
Dança dobrando o joelho

Quem quiser cantar comigo
Lave a boca com sabão
Olha que eu tiro cantigas
Da palma da minha mão

Não tenho medo de homem
Nem do ronco que ele tem
O besouro também ronca
Vai-se ver não é ninguém

Eu sou cabra cantador
Canto uma semana inteira
Canto como gaturamo
Na ponta da laranjeira

Sou cantador de fama
E canto como um tié
Desafio cantador
Venha de onde vier

Amar-te-ei, nunca ou sempre
Sempre ou nunca te hei-de amar
Mas não me peças medidas
Que o crer não sabe contar

Eu escondi-me e de mansinho
Fiquei a ouvir-te falar
Aprendi num bocadinho
Mais do que estava a contar

Desfiz as tranças, cortei-as
Já não sou rapariguinha
Tu preferias-me como eu era
Co'as tranças como eu as tinha

Agora vou-te amar sempre
Ou nunca te vou amar
Traiçoeira me tornaste
Farei como me agradar

Coração louco a sofrer
Mãos sensatas a fiar
Fios alvos de algodão
Que acolhem o meu penar

Oh! Solidão, solidão...
Que enches o meu peito a arder
Espetei o fuso num dedo
E nem o sinto a doer

Coração louco a sofrer
Num quieto e mudo pranto
E as mãos calmas a tecer
Lençóis de linho tão branco

O meu avental branquinho
Leva tanto que contar
Quando à tardinha no rio
For como sempre a lavar



Leva lágrimas redondas
Que se vão enfim soltar
Rio abaixo até às ondas
As ondas do nosso mar



Depois disseste-me adeus
Que não te quisesse mal
E as lágrimas dos olhos meus
Sequei-as ao avental



Disse o Juca na polícia:
- Ladrão sabe o que quer,
Quem tem garra, tem malícia,
Nunca rouba uma mulher.

Vejam que grande besteira,
Nesta minha caminhada:
Trabalhei a vida inteira
Para hoje não fazer nada.

Bem mais do que meus amores,
Menos que nosso senhor,
O clube dos trovadores
Foi que me fez trovador!

Do Tejo partiu a armada
De Pedro Álvares Cabral
E fez do mar uma estrada
Do Brasil a Portugal!...

Buscando as glórias do mar
Foi que el rei dom João segundo
Fez Portugal navegar
E abriu as portas do mundo!...
Celso Furtado de Mendonça

Que bem a vida me faz,
Numa emoção doce e linda,
Ao ver que me amas demais
E que eu te amo mais ainda!

Meu amor é um furacão,
Bota a mão onde não deve,
Por mais que ela diga não,
Eu lhe digo é só de leve!...

No telefone, o marido
Manda chamar a Leonor
E o criado distraído:
- tá no quarto com o senhor!

Minha terra - deu um berro
O candidato capiau -:
- terá uma estrada de ferro
Mesmo que seja de pau.

Gordo assim eu nunca vi:
É um sujeito tão pesado
Que, se ele cair em si
Pode morrer esmagado...

Sendo um "pau d'água"acusado
De um automóvel roubar:
- roubei não, seu delegado.
Pode até me revistar!

A mulher é como a rosa:
Esbanja amor e carinho,
Mas quanto mais é formosa,
Mais espeta seu espinho!

Esse amor, que por magia,
Fêz-se eterno em seu instante,
Vive agora de alegria
De ser saudade constante.

Não me chames de senhor
Que não sou tão velho assim.
E a teu lado, meu amor,
Não sou senhor nem de mim.

Amigos, são todos eles
Como aves de arribação:
- se faz bom tempo, eles vêm...
- se faz mau tempo, eles vão...

Busquei no amor, não me iludo,
A desventura que quis.
-nesta vida amar é tudo:
É mais do que ser feliz!

É nossa alma uma criança,
Que nunca sabe o que faz,
Quer tudo o que não alcança,
Quando alcança, não quer mais.

No dia em que tu quiseres
Ser meu senhor e meu rei
Serei todas as mulheres
Na mulher que te darei.

Fiz na vida o meu escudo
Desta verdade sagrada:
O nada com deus é tudo,
O tudo sem deus é nada!...

Nunca irei jamais casar
Vou ficar celibatário,
Para eu não ouvir falar:
- olha lá. Lá vai o otário...

Nesta casa tão singela
Onde mora um trovador
E a mulher que manda nela
Porém nos dois manda o amor.

Aos domingos ele odeia
Estar em casa parado
Marido de mulher feia
Tem raiva de feriado.

São luzes, decerto, os sonhos
Cheios de graça infinita
A iluminar-nos risonhos
Na escuridão da desdita.

Dei-te um beijo primeiro
Para o segundo eu parto
Assim que dermos o terceiro
Iremos logo para o quarto.

Minha casa tem fachada
Bonita e um jardim no centro,
Mas nela o que mais agrada
É a morena que tem dentro.