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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

REALISMO E NATURALISMO NO BRASIL


Realismo e Naturalismo foram as duas escolas literárias de domínio narrativo no fim do século XIX e início do século XX. Sua contrapartida na poesia é chamada de Parnasianismo. Apesar de se parecerem, o Realismo e o Naturalismo têm diferenças — o Naturalismo é marcado principalmente pelo determinismo, a ideia de que a natureza define o destino dos personagens. O mais importante autor realista e maior escritor do Brasil foi Machado de Assis, que merece tratamento em separado.
Referências históricas
Contexto sócio-político da época:
·              teorias de nova interpretação da realidade - Positivismo, Socialismo Científico e Evolucionismo
·               no Brasil, campanha abolicionista a partir de 1850 que culmina com a Lei Áurea em 1888
·               fundação do Partido Republicano nacional após a Guerra do Paraguai
·               decadência da monarquia brasileira
·                fim da mão-de-obra escrava e sua substituição por trabalho assalariado
·                 imigrantes europeus para a lavoura cafeeira
·                 economia mais voltada para o mercado externo, sem colonialismo
Características
As características do realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico e às novas formas de pensamento:
·                     objetivismo = negação do subjetivismo romântico, homem volta-se para fora, o não-eu
·                     universalismo substitui o personalismo anterior
·                     materialismo que leva à negação do sentimentalismo e da metafísica
·                     autores são antimonárquicos e defendem os ideais republicanos
·            nacionalismo e volta ao passado histórico são deixados de lado para enfatizar o presente, o contemporâneo
·            determinismo influenciando o homem e a obra de arte por 3 fatores: meio, momento e raça (hereditariedade)
O Romance realista propriamente dito, no Brasil, foi mais bem cultivado por Machado de Assis. Narrativa preocupada com análises psicológicas dos personagens e fazendo críticas à sociedade a partir do comportamento desses personagens.
DIFERENÇAS ENTRE REALISMO E NATURALISMO 
REALISMO

- Forte influência da literatura de Gustave Flaubert (França).
- Romance documental, apoiado na observação e na análise.
- A investigação da sociedade e dos caracteres individuais é feita “de dentro para fora”, por meio de análise psicológica capaz de abranger sua complexidade, utilizando a ironia, que sugere e aponta, em vez de afirmar.
- Volta-se para a psicologia, centrando-se mais no indivíduo.
- As obras retratam e criticam as classes dominantes, a alta burguesia urbana e, normalmente, os personagens pertencem a esta classe social.
- O tratamento imparcial e objetivo dos temas garante ao leitor um espaço de interpretação, de elaboração de suas próprias conclusões a respeito das obras.

Naturalismo
- Forte influência da literatura de Émile Zola (França).
- Romance experimental, apoiado na experimentação e observação científica.
- A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro”, os personagens tendem a se simplificar, pois são vistos como joguetes, pacientes dos fatores biológicos, históricos e sociais que determinam suas ações, pensamentos e sentimento.
- Volta-se para a biologia e a patologia, centrando-se mais no social.
- As obras retratam as camadas inferiores, o proletariado, os marginalizados e, normalmente, os personagens são oriundos dessas classes sociais mais baixas.
- o tratamento dos temas com base em uma visão determinista conduz e direciona as conclusões do leitor e empobrece literariamente os textos.

AUTORES
MACHADO DE ASSIS E O ROMANCE REALISTA

·         1ª FASE (Tendências românticas) Obras: Ressurreição, A mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia

Características Gerais:
- crença nos valores da época;
- estrutura de folhetim
- esquematismo psicológico.

·          2ª FASE (Tendências realistas)

             - Obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.
Características Gerais:

- Análise psicológica (os seres vistos em sua complexidade psíquica)
- Análise dos valores sociais (os valores que a sociedade cria para justificar sua própria existência)
- Pessimismo (descrença nos indivíduos e na organização social)
- Ironia (o chamado “sense of humor”, inspirado nos ingleses Stern e Swift)
- Refinamento da linguagem narrativa.

Principais personagens:
·         Brás Cubas, Vigília, Quincas – (Memórias Póstumas de Brás Cubas)
·         Bentinho, Capitu, Escobar, José Dias, – (Dom Casmurro)
·         Quincas Borba, O cão e o Filósofo, Rubião, Sofia e Palha – (Quincas Borba)


ALUÍSIO AZEVEDO (1857-1913)

Principais características:
- Expressão de destaque no naturalismo brasileiro;
- Sua linguagem literária era chocante, objetiva e direta. Procurava denunciar pela palavra a miséria, a corrupção moral. Muitos de seus personagens são doentes físicos, mentais, vítimas de suas próprias imperfeições.
- Demonstrava nítida preocupação com as classes marginalizadas pela sociedade.

OUTRAS OBRAS
- O Mulato
- Casa de Pensão
- O Cortiço (obra máxima do Naturalismo brasileiro).
O CORTIÇO
- Revelação da miséria urbana
- Enfoque nas classes marginais
- Determinismo do meio (tese dominante)
- Domínio do coletivo sobre o individual
- Desagregação dos instintos
- Principais personagens: João Romão, Bertoleza, Miranda, Jerônimo, Rita Baiana e Pombinha.

RAUL POMPÉIA (1863 – 1895)

 Principais características:
- Nasceu em Angra dos Reis e suicidou-se no Rio de Janeiro, na noite de Natal.
- Sua obra “O Ateneu” apresenta inspiração na adolescência do autor (estudou num colégio interno, o Colégio Abílio)

- Sua técnica se prende ao Impressionismo em que o artista enfatiza a impressão que a realidade despertou nele.
ATIVIDADE SOBRE REALISMO E NATURALISMO NO BRASIL

REALISMO E NATURALISMO EM PORTUGAL

1. Datas
·         1865: Início -  Questão Coimbrã - início do Realismo em Portugal.
·         1890: Termino - Oaristos, de Eugênio de Castro - início do Simbolismo em Portugal.
2. Contexto histórico
À época do Realismo, a Europa vive a segunda fase da Revolução Industrial, com o desenvolvimento dos transportes e comunicações, e assiste à polarização da sociedade em duas classes sociais principais: a burguesia industrial e o proletariado. É um período que registra, entre outros, os seguintes acontecimentos:
·         progresso definitivo das cidades;
·         avanços científicos e tecnológicos;
·         desenvolvimento de novas correntes filosóficas e científicas;
·         renovação política e cultural influenciada pelas ideias liberais;
·         disseminação das ideias socialistas e anarquistas.
Portugal apresenta um panorama diferente do restante da Europa: seu processo de industrialização ainda engatinha, há elevados índices de analfabetismo, e a maior parte da população vive no campo, onde a prosperidade da burguesia rural entra em choque com péssimas condições de vida para os camponeses.

Nas cidades, por sua vez, acontece o crescimento do comércio e do funcionalismo público. Essas contradições entre a vida no campo e nas cidades, juntamente com as desigualdades sociais cria um clima de descontentamento generalizado, que terá consequências nas artes, a essa altura influenciadas pelas novas conquistas europeias. Os artistas voltam-se, então, para a crítica e a denúncia social.

QUESTÃO COIMBRÃ
O acontecimento mais importante da cultura portuguesa da época foi a Questão Coimbrã, que se tornou um marco de renovação ideológica e literária por ser uma polêmica entre: os jovens realistas de Coimbra, identificados com as propostas novas e os românticos de Lisboa, conservadores e adeptos do continuísmo.
Em Lisboa, o veterano Antônio Feliciano de Castilho escreve um posfácio à obra Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, seu discípulo das letras. Esse posfácio ataca violentamente o ideário da "Geração de 70".
Instaura-se, abertamente, a rivalidade. De Coimbra, Antero de Quental, jovem líder do grupo que se opõe a Castilho, contra-ataca com o opúsculo intitulado Bom-Senso e Bom-Gosto, em 1865. Estava deflagrada a Questão Coimbrã, que se tornou também conhecida como Polêmica do Bom-Senso e Bom-Gosto e foi responsável pela introdução do Realismo-Naturalismo em Portugal.
Eça de Queirós não participou da polêmica, embora estudasse Direito em Coimbra. Mas foi integrante do Grupo do Cenáculo, liderado por Antero de Quental e participou, mais tarde, das Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense, proferindo a conferência "A Literatura Nova ou O Realismo como Nova Expressão da Arte".

3. Origens do Realismo-Naturalismo
As origens do realismo encontram-se na França, em 1857, com a publicação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, que inicia um novo ciclo da cultura francesa, calcado na análise crítica da sociedade; é ela a obra inaugural do Realismo; Em 1867, ainda na França, a obra Thér -se Raquin, de Émile Zola, inaugura o Naturalismo.
Realismo-Naturalismo em Portugal
Já sabemos que a segunda metade do século XIX é marcada por uma grave crise em Portugal. Imerso em situação de grande atraso, o país contempla uma Europa renovada no plano político, social, econômico e cultural. Não apenas contempla, mas se vê invadido pelas novas conquistas do velho mundo, já que uma juventude operosa e inteligente está atenta àquilo que lhes chega - em 1864, Coimbra se ligava à rede europeia de caminho-de-ferro - principalmente de França. O surgimento de uma evolução tecnológica e, por decorrência, cultural tende a esvaziar os ideais românticos que prevaleceram por quase 40 anos.
GERAÇÃO MATERIALISTA
É nesse ambiente que floresce a "Geração de 70"ou "Geração Materialista", influenciada pelos modelos franceses buscados em Balzac, Stendhal, Flaubert e Zola.
Os jovens acadêmicos portugueses absorvem as novas teorias, tais como o Determinismo de Taine, o Socialismo "utópico" de Proudhon, o Positivismo de Auguste Comte, além do Evolucionismo de Darwin, entre outras novidades no campo das Ciências e da Filosofia:
·         O Determinismo de Taine, segundo o qual o Homem - e seu comportamento e, portanto, a Arte - está condicionado a três fatores: a herança (determinismo biológico ou hereditário); o meio (determinismo social ou mesológico) e o momento (determinismo histórico);
·         O Positivismo de Auguste Comte, que defendia a existência da razão e da ciência como fundamentais para a vida humana, pregando uma atitude voltada para o conhecimento positivo, concreto e objetivo da realidade;
·         O Criticismo e o Anticlericalismo de Renan, que pregava uma revisão do papel histórico da igreja católica, apontando-a como "mistificadora da verdadeira fé";
·         O Socialismo "utópico" de Proudhon, que propunha a organização de pequenos produtores em associações de auxílio mútuo, calcado em ideias antiburguesas e antirreligiosas;
·         O Evolucionismo de Darwin, ( A origem das espécies) entre outras novidades no campo das Ciências e da Filosofia.

Características do Realismo-Naturalismo em Portugal
O Realismo-Naturalismo implica o distanciamento da subjetividade para o escritor. Aprofunda a narração de costumes contemporâneos da primeira metade do século XIX e de todo o século XVIII. Desnudam-se as mazelas da vida pública e os contrastes da vida íntima; e buscam-se para ambas causas naturais ou culturais. O escritor se sente no dever de descobrir a verdade de suas personagens, no sentido positivista dissecar os motivos de seu comportamento.
Estreitando o horizonte das personagens e de seu comportamento nos limites de um acontecimento, o romancista acaba recorrendo, com frequência, ao tipo e à situação típica. A procura do típico leva, muitas vezes, o escritor ao caso, e, daí, ao patológico.
Em termos de construção, ocorre uma "limpeza" do processo expressivo, com a eliminação dos exageros românticos.
Assim, do Romantismo ao Realismo, há uma passagem do idealizante ao factual, que pode ser esquematizada nas seguintes características:
·         Objetividade: exame da realidade exterior ao indivíduo, realidade sem o intermédio da imaginação e do sentimentalismo;
·         Racionalismo: a inteligência como único meio para a compreensão da realidade objetiva;
·         Universalismo, impessoalismo: busca da verdade universal, impessoal, captada pelos sentidos e pela inteligência, e só aceita quando passível de ser testada, examinada, experimentada;
·         Arte compromissada, engajada: crítica, análise e denúncia da sociedade;
·         Contemporaneísmo: arte voltada para o seu próprio tempo, para os problemas de sua época;
·         Antiburguesismo, anticlericalismo, antitradicionalismo, antimonarquismo;
·         Preocupação formal: busca de clareza, de equilíbrio, de concisão no estilo, enxuto e limpo;
·         Lentidão da narrativa: descrições minuciosas, morosas, pormenorizadas das personagens - o plano da ação e da narrativa em segundo lugar;
·         Linguagem predominantemente denotativa, com privilégio da metonímia em detrimento da metáfora;
·         Exaltação sensorial, linguagem sinestésica: só é verdadeiro o que pode ser captado sensorialmente.

Embora fossem contemporâneos e muitas vezes se tenham "interpenetrado", o Realismo e o Naturalismo apresentaram diferenças no enfoque dado ao tratamento dos assuntos e características próprias:
·         Realismo - a "humanização" das personagens:
o    psicologismo: análise psicológica das personagens, esféricas, dinâmicas;
o    "humanização" das personagens: a mulher, geralmente adúltera e pecaminosa; o homem, fraco e covarde;
o    enfoque da burguesia como classe social;
o    fotografia objetiva da realidade;
o    romance de "interpretação aberta", deixando ao leitor a tarefa de tirar suas próprias conclusões.
·         Naturalismo - a "zoomorfização" das personagens:
o    Abordagem científica da sociedade e dos atos humanos, com o privilégio dos aspectos doentios, patológicos, defeituosos e o afastamento do psicologismo e da profundidade realistas, a fim de examinar o plano científico e biológico;
o    Personagens degradadas, párias da sociedade, vistas como "produto da raça e do meio", não raro sublevadas à categoria animal, agindo por instinto, num processo conhecido como zoomorfização das personagens, através de comparações entre o homem e o animal;
o    Exame das classes inferiores, do proletariado, dos marginalizados;
o    Enfoque dos aspectos torpes e degradantes da realidade;
o    Romance de tese, experimental, calcado na experimentação científica, com preocupação social e política.

AUTORES DO REALISMO EM PORTUGAL:
EÇA DE QUEIRÓS (1845-1900)
·        Maior romancista português de todo o século XIX;
·     "O homem é um resultado, uma conclusão e um procedimento das circunstâncias que o envolvem. Abaixo os heróis" - influência determinista;
·        Postura de recusa ao Romantismo;
·     "O Realismo é uma reação contra o Romantismo: O Romantismo era a apoteose do sentimento: - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houver de mau na nossa sociedade"/
·       Retratou as grandes mazelas da sociedade portuguesa;

FASES DA OBRA DE EÇA DE QUEIRÓS:
- 1ª FASE - influência romântica; obra: O mistério da estrada de Sintra, escrito em parceria com Ramalho Ortigão;
- 2ª FASE - caráter realista/naturalista - obras: O Crime do Padre Amaro; O primo Basílio; Os Maias. Romance de tese - ideia inicial que seria desenvolvida a partir das ações das personagens. As três obras citadas compõem o que essa chamou de "Cenas Portuguesas";
-3ª FASE - pós-realista - obras: A ilustre casa de Ramires; A cidade e as serras; A relíquia - autor preocupado com valores tradicionais da vida portuguesa, da existência humana e da vida campestre;
·    A ênfase da obra de Eça de Queirós é a crítica à alta burguesia e ao clero português - objetivo: "pintar a sociedade portuguesa" e sua "podridão".

ANTERO DE QUENTAL (1842-1891)
        Ao lado de Camões e de Bocajo, Antero de Quental é um dos mais importantes poetas portugueses. Sua obra expressa a angústia de uma vida dividida entre posturas opostas: o compromisso revolucionário de transformar a sociedade, de acordo com os parâmetros do socialismo utópico de Proudhon, e a educação tradicionalista, a formação religiosa, a tendência visceral à especulação metafísica.
         Este combate interior que Antero de Quental travava entre a força do sentimento e da religiosidade e o pensamento materialista, o ceticismo filosófico, gera um drama humano expresso poeticamente por riqueza artística exemplar nas letras portuguesa.
          Obra principal: parte dos Sonetos completos (1886-1890), representação poética dos grandes dilemas humanos, das intemporais indagações sobre a condição humana.